domingo, 7 de setembro de 2008

Curral Grande: se eu pudesse descrever em poucas palavras o espetáculo seriam “quadros expressionistas”, mas ainda não consigo perceber muito a atmosfera a qual fui remetida. Foi também tudo tão minimalista aos meus olhos: o figurino, os movimentos, etc...porém claros e precisos. Nem tive vontade de chorar e também não refleti, talvez tenha me atentado mais a estética, ao trabalho corporal. Foi tudo tão simples mesmo no exagero e bonito...aquela coisa de sentir de uma forma diferente, sem explicação. Tinha expressões tão lindas e marcantes como à das meninas que representam a outra sendo estuprada, a imagem católica se desmanchando e também a marcação de mudança de uma cena para outra me pareceu como aqueles animais, os bois que ficam rodando nos moinhos, ou a própria imagem de um campo de concentração.
Este foi um dos poucos espetáculos ao qual eu observei muito pouco o que pode ser melhorado, o que falta...acho que estou assim absolvida por este universo que me chamou muito para uma vontade de desenvolver algo nesta concepção.
Eu já havia sabido nas aulas de história sobre os currais do governo, mas ainda não tinha parado para pesquisar mais a fundo, então acho que este resgate do grupo a temática foi importante em um sentido de apropriar-se como cidadão nordestino, cearense a respeito de nossa história e, que o sofrimento do nosso povo não se aplica somente a questão da seca, apesar de também fazer parte do contexto.
Além do quê, é perceptível a unidade e a coletividade neste trabalho, o que dá gosto de ver pensando que teatro é isso, todos colocando a mão na massa para que este trabalho tão artesanal se desenvolva com qualidade, esmero...e magia. Eu faço minhas as palavras de um amigo: “ele me chegou completo”!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Os Olhos De Bette Davis: nunca havia ouvido falar sobre ela, sobre sua história. Tive a surpresa não esperada de ver enfocado ali não uma biografia desta mulher, mas sim um laço desestruturado e importante com o filho, também temperamental e artista diga-se de passagem. Claro, os olhos dela que veêm de certa forma, assim ou assado...não, a forma dele sentir, dele perceber tudo, dele viver naquele instante fatídico um repensar e renovar-se de sentimentos perante a vida, a sua mãe. E isso faz a gente ao menos pensar um pouco também...algumas das frazes ali nas discussões soaram-me familiar (risadas). O que mais me chamou a atenção foi o texto saboreado, ao menos pelo filho...as nuances, as intenções...aquele jeito que me lembrou Cazuza, um meninão de idade sei lá das quantas, o humor negro ou ácido mesmo que refinado...apesar de a construção a respeito de sua homossexualidade ter me parecido um tanto caricatural e até mesmo porque na transição de quando a doença o corrói, descontroi bruscamente aquilo dali...opostos bem estruturados sim, mas e o meio termo? Ou vai ver nem precise. Precisa? Já é a segunda vez que eu vejo a atriz que fez Bette atuar e novamente gostei. Percebi uma Bette ali ou uma mulher forte, a frente de seu tempo. Gostaria de ter visto mais exploração quanto aos planos e penso que a relação das irmãs, na mágoa do passado poderia ter sido mais evidenciada, nessa relação de competitividade, está muito apazigado e mesmo depois de anos de fatos ocorridos, naquele momento é o ápice de tudo ou não? Até o momento da última entrada de Lúcio Leonn, o ritmo e energia estão maravilhosos, mas depois fica linear até o momento da morte do doente, que aí sim, revive-se a emoção. Falando de Lúcio, achei o mais lúdico, o mais belo suas entradas, sua construção de personagem, personagem que horas me remetia a talvez o próprio doente mais jovial, ou seja, o seu espírito interior de artista que vêm a sua ajuda, mas que depois percebi ser Téo, não é? Mas o interessante são as possibilidades. Na sua dança, para mim poderia ter tido um pouco menos de pulos e mais movimentações suavizadas...mas as pequenas (no sentido de repentinas aos momentos) possibilidades que ele construiu foram interessantes e passava o poético daquele encontro...que me fez soltar lágrima quando ele acompanha o doente tentando dançar, tentando não fazer com que a arte morra nele e ela não morre não. Drama que bateu leve...